A crítica literária em geral realça o compromisso político-social, quando muito a colocação de João Melo na complexa e tensa questão identitária angolana. Indo por aí, porém, não considera o que há na sua poesia de trabalho literário, ou faz uma referência breve à sua consciência poética. É importante notar a importância que teve para este autor o conhecimento de outra poesia, como a de João Cabral, Daniel Filipe, Alexandre O’Neill ou Gastão Cruz, apenas para dar esses exemplos.
Essas referências e outras declarações do autor («a técnica é fundamental. Isso vai do trabalho linguístico à estrutura») vieram confirmar a preocupação com o fazer literário, a precisão, a concretude, a busca da nudez verbal que o afastou de uma certa tendência para o discursivismo. […] É desse inconformismo, da sua componente estética, voltado também sobre as próprias criações anteriores, que se faz este quinto e último volume antológico da sua poesia produzida entre 1970-2020.
Francisco Soares