Catálogo
SINOPSE
«A Alice
Todas, mesmo quase todas, as pessoas pequenas quando crescem se
transformam em pessoas grandes. As mãos tornam-se compridas — e são
capazes de um adeus que se distingue à distância; os dedos longos, e às
vezes tão longos que quando apontam ficam para lá da vista, perto de
tocarem o que querem apontar. As pernas são quase pontes sem água, arcos
enormes por onde se passa; e entre cada passo que dão, cabem vinte ou
trinta mais pequenos, ou então uma corrida de lebre em disparada. Os
olhos deixam de ser de ver ao perto, e por isso não conseguem reparar,
mesmo que queiram, nos olhos das formigas, que são de um verde-escuro,
quase terra; deixam de conseguir ver os homenzinhos de sombra que entram
à noitinha pela janela, e nos passeiam pelo quarto fora. E mesmo quando
os apontamos com os nossos dedos pequenos de tocar as coisas próximas,
dizem, rindo com a certeza dos olhos de ver ao longe, que não se trata
de homenzinhos a sério, mas da sombra sem forma dos candeeiros que
iluminam a noite lá fora.
Todas, quase todas, as pessoas pequenas quando crescem se transformam em
pessoas grandes e só muito poucas se tornam grandes pessoas. Como a
Alice. Mas, antes de ser uma grande pes soa grande, Alice já fora uma
grande pequena pessoa. Por isso, quando cresceu continuou a ver os olhos
verde-escuros quase terra das formigas. A diferença é que agora os via
com os seus olhos grandes de grande pessoa que também conseguia
distinguir a pupila azul-celeste-quase-céu nos mesmos olhos
verde-escuro-quase-terra das formigas. E os seus dedos ficaram tão
compridos que tornavam perto as coisas que estavam muito longe. E muitas
vezes se via a Alice ir buscar uma gota de céu às nuvens e um fósforo
de luz ao Sol. [...]»
(Rita Taborda Duarte, A Verdadeira História da Alice, p. 3)
Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 4º ano de escolaridade destinado a leitura autónoma e/ou a leitura com apoio do professor ou dos pais.
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