A literatura colonial, para muitos uma «pseudo-literatura» ou uma literatura «imoral», possui uma clara importância estético-literária e cultural, uma vez que é tributária de toda uma tradição que, de um modo mais ou menos marcado, tem regido as principais redes das relações de identidade e de alteridade ao longo da história da humanidade — os helénicos e os «bárbaros», os cristãos e os «pagãos», os muçulmanos e os «infiéis», os civilizados e os «primitivos» ou «selvagens», os desenvolvidos e os «subdesenvolvidos».
Império, Mito e Miopia — Moçambique como invenção literária permite não necessariamente reabilitar ou legitimar a literatura colonial — não é esse o objetivo —, mas tão-somente compreender, problematizando, a especificidade de um modo de (re)inventar mundos, segundo uma lógica alicerçada numa pretensa supremacia cultural, ética e civilizacional.
O imaginário dominantemente representado pela literatura colonial ainda subsiste e leva-nos a falar numa colonialidade intemporal e proteica, em exercícios permanentes de travestimento representacional seja ele literário ou extraliterário.
O presente que hoje vivemos, nesta globalidade difusa, desequilibrada e inquietante, não faz mais do que confirmá-lo.