SINOPSE
Com a sageza crua de Machiavelli aprendemos — a partir das tristes
experiências com a fogueira sofridas, entre muitos outros, por Girolamo
Savonarola — que os profetas desarmados não triunfam, por maiores que
sejam a generosidade da entrega, a nobreza dos desígnios e a razão que
lhes assista.
A literatura clandestina das Luzes setecentistas — respaldada em
incontáveis exemplos, que a historiografia subsequente pode sem grande
esforço multiplicar — acrescenta que a «velhacaria» (fourberie) sem as
armas só raramente consegue os seus objectivos, pelo que não deixa de
ser sensato precaver-nos contra as mentiras dos poderosos.
Talvez seja, então, de não esquecer por completo um velho propósito de
Marx, constante de um artigo de 1844, segundo o qual a teoria também se
pode converter numa arma, também se pode tornar força material, desde
que apropriadamente incarnada nos agentes susceptíveis de operar a sua
realização prática.
Na realidade, e sem quaisquer acordes melancólicos de consolo
compensatório ante as agruras dos tempos, a verdade — com criterioso
trabalho procurada e com limpa veracidade transmitida, apesar, para além
de, e contra todas as mentiras que intentam substituir-se-lhe,
soterrá-la ou desfigurar-lhe o viso — constitui sempre um decisivo
factor de emancipação humana.
É disso, afinal, que se ocupam as revoluções científicas — e as
outras... também.
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