«Fui publicada em Portugal em 2024, o livro Cartas para a minha Avó atravessou os mares e me apresentou a um novo público de leitores e leitoras. Mesmo assim, sinto a necessidade de me apresentar. Eu vim de uma criação de um estivador sindicalista e de uma trabalhadora doméstica, adepta do candomblé, que tirava os espíritos obsessores das pessoas. Meu pai foi militante do movimento negro, um dos fundadores do Partido Comunista de Santos, cidade do litoral de São Paulo onde cresci, e desde cedo incentivava a mim e aos meus irmãos a estudar. Não havia a mínima possibilidade de alienação: sabíamos que éramos parte de uma família negra da classe trabalhadora e as consequências de partirmos desse lugar, assim como já havíamos internalizado que qualquer possibilidade de emancipação passava necessariamente pela educação. Eu sempre fui muito estudiosa, gostava de ler, tirava boas notas e me destacava como uma das melhores alunas. Mas não sem retaliação por ousar “sair do meu lugar”.»